domingo, 12 de maio de 2013

O Silêncio

 

Aqui estou eu
Atrás desse mundo de ilusões
Sentado novamente neste banco
Apenas escutando o teu silêncio.

Aqui estamos nós
Olhando um ao outro
Como na primeira vez
Olhos nos olhos
E nada mais existe.

Por detrás dessa janela
Porta para o mundo
Não pensamos em existir
Estamos aqui...
Sonhando como crianças
Viajando por vários mundos
Em segundos...
Através do teu silêncio.

Já não podemos fugir
Não queremos mais partir
Pois é bom ficar aqui
Olhos nos olhos
Admirando o teu silêncio.

Felizes seriam os outros
Se pudessem estar aqui
Olhos nos olhos
E nada mais existe.

Sonho de todos os deuses
Poder contemplar
O que para nós é sagrado
Secreto...
Profano...
Único...

É assim que quero estar
E para sempre continuar
Sempre ao teu lado
Neste banco, sentado
Esquecendo-me deste mundo
Esquecendo-me de tudo
Apenas olhos nos olhos
Escutando o teu silêncio...

Anderson Batistello – 21/12/2004

 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Crônica do Feriado


Acordei cedo e, como de costume, tomei café da manhã, vesti-me a rigor e saí às pressas de casa. O movimento das ruas estava reduzido naquela hora. Mas como? Todos os dias têm sido tão movimentados...
Pensei... Pensei... E lembrei: -Ah, hoje é feriado!
Voltei para casa, deitei na minha cama e, mesmo sabendo que era dia de descanso, comecei a planejar o que fazer, num dia tão bonito e ensolarado.
Antes de sair de casa, gritarei na janela a fim de acordar a todos, visitarei um velho amigo, almoçarei em sua casa e, depois, irei a locais nos quais costumava freqüentar para me distrair e pensar sobre a vida.
Quero lavar a alma e realizar todos os meus loucos desejos até então acumulados e reprimidos pelo meu consciente no momento em que achar mais conveniente.
Farei um poema e uma música, sem estar nada inspirado e sem conhecer o dó.
Tirarei os sapatos e andarei sozinho no parque cheio de gente. Avulso na multidão, roubarei uma flor, brincarei no parquinho e tomarei sorvete.
Guardarei numa garrafa de refrigerante muitos raios de sol para os dias de chuva, muitas felicidades para os dias de tristezas e melancolias.
Cumprimentarei a todos, conhecidos ou desconhecidos, amigos ou inimigos. Sorrirei mais e melhor. Rasgarei cartas, retratos e tudo aquilo já escrito por mim. Deixarei os erros do passado para segundo plano.
Romperei paradigmas.
Caminharei pela rua sem compromisso, sem destino, com as mãos nos bolsos e com os cabelos soltos, sentindo-os roçar pela minha face e ombros. Sentirei o vento gelado soprar na direção contrária ao meu percurso. Cantarei com a voz que nunca tive.
Lembrarei da garota que teve muito significado para mim e ligarei para ela, perguntando como ela está.
Esquecerei a sintaxe, a colocação pronominal, o drama da pontuação, os exames finais, os estudos e compromissos do cotidiano. Concentrar-me-ei no que me traz tranqüilidade.
Ficarei o restante do dia ao relento, em companhia do vinho, deitado sobre um gramado, observando os lírios, os pardais, os periquitos...
Irei assistir às novas atrações do cinema e comprarei pipoca do seu Zé.
Esquecerei a sociedade, a democracia, a política, os jornais e revistas, a filosofia, a matemática, as guerras no Oriente Médio, as mediocridades veiculadas pela televisão.
À noite, chegarei em casa, lerei um bom livro e tentarei dormir depois.
E amanhã, amanhã sim, reassumirei meu lugar no mundo, sem juntar mais do chão aquela saudade que estava dentro de tudo.
Farei tudo isso hoje, porque hoje é feriado.

Anderson Batistello - 16/02/2002