segunda-feira, 30 de maio de 2011

Tudo ou Nada



Nada a falar, tudo a pensar
Nada a pensar, tudo a escrever
Nada a escrever, tudo a ler
Nada a ler, tudo a ver
Nada a ver, tudo a falar
Nada a esconder
Tudo a perceber
Nada a temer
Tudo ou nada

Tudo a sentir, nada a sorrir
Tudo a sorrir, nada a mentir
Tudo a mentir, nada a acabar
Tudo a acabar, nada a destruir
Tudo a resistir
Tudo a restaurar
Nada a continuar
Nada a alterar
Tudo ou nada

Nada faz falta
Tudo persiste
Nada mais existe
Tudo incomoda
Nada mais importa
Tudo em minha volta
Tudo a ver
Com nada
Tudo ou nada

Nada faz viver
Tudo faz morrer
Nada mais incomoda
Nada mais importa
Tudo faz crescer
Tudo faz ver
Tudo ou nada

Tudo leva a crer
Que nada mais tem volta
Nada em minha volta
Tudo a perceber
Nada mais a nascer
Nada a morrer
Tudo faz falta
Nada mais tem volta
Nada a dizer...
Tudo ou nada

Tudo tem a ver
Com nada que revolta
Nada mais importa
Tudo o que venha a dizer
Nada a escolher
Tudo a aceitar
Nada a recusar
Tudo e nada
Tudo ou nada 

Anderson Batistello - 08/09/2004

domingo, 22 de maio de 2011

O Espírito


Repousa, agora, o Espírito
Após ter, por um longo tempo, resistido
Às mais terríveis ingratidões alheias
Sofridas, mas não merecidas.

Compreende agora
Que não basta estar acordado
Para sentir na pele a dor dos fatos
Tão massacrantes da mísera vida.

Os pesadelos viraram apenas continuidade
De todas as mediocridades
Existentes num mundo de hipocrisia
De falsidade e agonia.

E a paz já não existe mais
A morte é que satisfaz
A busca incessante por prazer
E por um sentido na vida.

A essência da paixão dissipa-se pelo ar
O amor voa, sem ter onde pousar
E a tristeza continua a pairar
Quando se está deprimido
E prestes a chorar.

Por causa de um contato consumado,
Mas não correspondido
Repousa agora, o Espírito
Após ter, por um longo tempo, sofrido
Todas as ingratidões
Que preenchem os mais belos campos de cinzas
Que penetram profundamente na pele humana,
Danificando-a
Deixando à vista as chagas
Dolorosas para quem as vê
Mas indolor para quem as tem...

Saudades dos tempos que não voltam
Esperanças para a realização de um sonho impossível...
Assim repousam todas as mágoas
no Espírito...

Anderson Batistello - 11/07/2004

Comentários: composição inspirada em um filme que assisti, chamado “Stigmata”, embora o filme não tenha muito a ver com o conteúdo desta poesia. Ainda bem que nunca passei durante toda minha vida por fases tão pessimistas, apesar de ter uma boa percepção para escrever sobre este assunto.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Despedida do Trema

    

     Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiféros, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos.

     Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!

     O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois-pontos disseram que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.

     Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I.

     Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas? A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W "Kkk" pra cá, "www" pra lá.

     Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da Língua Portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar.

     Nos vemos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.

     Adeus,

     Trema.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Transitoriedade


Os sonhos são os pilares do destino
Que se desgastam de modo contínuo
Com o decorrer dos fatos diários
Tornando frágil a estrutura sustentada
Pelos objetivos da vida mais pesados
Construídos durante a adolescência
Até mesmo na fase adulta já alcançada

Não há um período definido
Para o início das obras
Mas o fim já está programado
Antes mesmo do nascimento,
E do óvulo fecundado.

O fim chega inesperadamente
Mas costuma vir mais rápido
Quando ficamos cansados
E incapacitados de lutar
Em busca da nossa felicidade
E do nosso bem-estar.

Infeliz é aquele que não acredita
Que a vida não pode ser bem vivida
Deveria ter em mente:
A morte é apenas uma outra laje
Sustentada pelos alicerces
Da sobrevivência e da dignidade
Essenciais para essa renovação contínua
Característica da natureza humana
E da transitoriedade da vida.

Anderson Batistello - 24/09/2001

terça-feira, 10 de maio de 2011

Todos Contra Mim



Não posso mais me expressar
Não posso expor minhas idéias
Estão todos contra mim

Não posso mais chorar
Não posso mais sorrir
Estão todos contra mim

Perseguem-me a cada passo
E nada do que eu faço
É visto como deveria ser

Não suporto a repressão
E todo tipo de proibição
Não me deixa mais viver

Eu defendo a verdade
Mas não tenho liberdade
Para fazer o que quero

Tento escapar da perseguição
Mas só encontro escuridão
E um caminho para o inferno

Já cansei de ficar isolado
Não há ninguém ao meu lado
Para me ajudar quando preciso

Faço tudo para ser bem visto
Sou sincero sobre o que eu sinto
Mas dizem que eu sempre minto

Para escapar da ingratidão
Eu prefiro a solidão...
Esta é a única solução.

Anderson Batistello – 20/06/2000

Comentários: lembro-me vagamente desta composição. Escrita em 2000, faz parte do meu repertório da fase de adolescência, a qual foi marcada por excelentes momentos e, é claro, por revoltas, que são bem comuns entre jovens nesta etapa da vida.

terça-feira, 3 de maio de 2011

A Musa

 
Vejo sua face pálida e suave ao travesseiro.
Vejo seu corpo perfeito refletido pelo espelho.
Gosto tanto de amansar seus sedosos cabelos.
Sinto-me tão relaxado, livre do desespero.

Gostaria tanto de ver seus olhos novamente.
Aqueles olhos azuis que ainda hei de admirar.
Pois ainda aguardo seu despertar ansiosamente.
Para vê-los reluzentes, belos como o mar.

Imagino a existência de um paraíso secreto.
Ainda procuro descobrir quais são os mistérios.
Da profundeza e beleza de seus olhos azuis
Que são os espelhos da sua alma
E que refletem o meu céu, a magnífica luz.

E sua pele clara, tão branca como seu longo vestido.
O qual demonstra a formosura deste seu corpo bem esculpido.
Suas formas são tão perfeitas, sua face é tão bela.
Não há como negar que a sua beleza é realmente eterna...

Anderson Batistello – 06/02/2002
 
Comentários: composição inspirada em um sonho que tive. Assim que me despertei, escrevi. Com a idéia que me surgiu, a intenção era escrever um poema nada conciso, porém decidi deixar este assim e mais tarde compor outro mais longo e detalhado, e compus. Em breve, postá-lo-ei aqui.