sábado, 30 de abril de 2011

A Conta e o Tempo


A Vida pede estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta
Para dar minha conta feita a tempo
O tempo foi me dado, e não dei conta.

Mas como dar tanta conta sem tempo,
Eu que gastei sem conta, tanto tempo?
Não quis prestar conta sobrando tempo,
Hoje quero dar conta, e não tenho tempo.

Vocês, que têm tempo sem dar conta,
Não gastem seu tempo em passatempo
Cuidar, enquanto é tempo, em sua conta.

Pois aqueles que, sem conta, gastam tempo
Quando tempo chegar de prestar conta
Lamentar-se-ão, como eu, o não ter tempo.


sexta-feira, 29 de abril de 2011

Fobia



Ouviam-se vozes e risos. Pessoas olhavam-me como se eu tivesse culpa de algo. Senti-me abandonado por ti, sem sequer ter falado contigo. Senti-me sozinho e desamparado, rastejando pelo chão do quarto procurando uma luz. O interruptor chega a minha mão; acendo a luz, mas tudo continua escuro.

Preciso ouvir sua voz para me certificar que você ainda está comigo. Preciso ser amparado por você, e me abrigar em seus braços. Porém, não te encontro mais, pois você fugiu de mim mais uma vez.

Gritos e gemidos são ouvidos por todos os lados. Há passos vindo em minha direção, mas em que direção eu estou? Tudo está tão escuro agora, e a sua voz já não posso mais ouvir.

 Sinto como se bichos estranhos subissem por meu corpo; sinto mãos a me tocar. O sangue corre pelas veias, sem saber ao certo que direção seguir. O medo me aflige, mas não há ninguém aqui para me proteger.

Meus amigos se perderam no escuro. Preciso salvá-los. Preciso fazê-los saber a verdade. Você se perdeu no escuro com eles, e nada poderei fazer se eu continuar aqui, lamentando-me sem agir.

Ouço vozes, vejo vultos. Tudo é muito estranho. Será apenas a escuridão, ou estou ficando cego? Nesta noite, o inferno chegará. Não sei bem como será; só sei que não quero estar lá.

Medo do escuro; medo de algo que está por perto...

Das vozes que ouço, e entre pessoas que vejo, você está longe. Lá serão apenas eles e eu, mas não quero conhecê-los. Jamais quero ver suas faces. E quando eu me der conta, não poderei mais voltar.

Tudo é tão incerto agora, e nada mais tem volta. E o medo é de algo que está sempre por perto...

Anderson Batistello – 23/06/1999

terça-feira, 26 de abril de 2011

Contradições


Não quero ouvir tristes aventuras de amor
Quero contar felizes romances de ódio
Frases boas atrapalham o distante
Palavras más ajudam o próximo
A solidão consola o desesperado
A multidão deprime o relaxado

Acreditamos que tudo esteja bem
Duvidamos que nada esteja mal
Por mais que a culpa nos reprima
Por menos que a absolvição nos libere
Por mais que as veias se liguem ao corpo
Por menos que as artérias se soltem da alma

O dia passa a ser escuro
A noite passa a ser clara
A luz escurece as ruas
A sombra clareia a calçada
A água acende o fogo
O fogo apaga a água

As portas se fecham para a entrada do vácuo
As janelas se abrem para a saída do ar
A respiração decompõe o oxigênio
A inspiração sintetiza o gás carbônico

Não se vive neste planeta pelo azar
Morre-se naquele universo pela sorte

A verdade é uma falsidade verdadeira
A mentira é uma verdadeira falsidade

A televisão anuncia o início do programa
O rádio desanuncia o fim do intervalo comercial

Os ouvidos que gritam por liberdade
As bocas que ouvem a repressão
O rico passa a ter fome e a mendigar
O pobre passa a comer sem nada doar

O desespero passa a consolar
Todos aqueles que estão calmos
E que não param de chorar

E quando nada mais é real
Tudo se torna virtual
Mesmo para aquele que acredita
Ou para esse que não crê
Que o amor é tão raso
E o ódio, tão profundo
Até cego consegue ver
Tudo que uma ótima visão nunca irá observar
O que há de microscópico no emocional
O que há de macroscópico no racional

A fúria que todos liberam de si
E a conformação que ninguém absorve de ninguém
Como visões de uma revolução
Ou uma simples paixão pela nação
O terror que produz sonhos terríveis
O drama que destrói pesadelos maravilhosos
Deixam pessoas felizes em solidão
Quando todos estão tristes em união

Todos pensam que se parecem uns com os outros
Mas ninguém tem nada a ver com nada
Assim como os cavalos que possuem mãos
E os humanos que possuem patas

Desencontros ocorrem de propósito
Encontros não ocorrem ao acaso
Nada existe nesse vazio ocupado por todos
E todo o restante está em extinção

Os seres humanos não são loucos
Apenas fingem agir como sãos.

Anderson Batistello - 01/08/2000

domingo, 24 de abril de 2011

As Bem Aventuranças



Bem aventurado será o escolhido
A teu amor, consagrar
Bem aventurado será aquele que,
Beijos afáveis de tua boca,
Conseguir arrancar

“Na doce volúpia, no êxtase total”

Bem aventurado será o ser
Que tatear teus pêlos de leve
Bem aventurado será aquele que,
O aroma suave de teu corpo,
Conseguir inspirar

Bem aventurado será o ser
Que conseguir desvendar
Os segredos da imensidão azul de teus olhos
Tão belos como o mais profundo mar

“Ele há de se encantar...”

Bem aventurado será o ser
Que, em teu seio macio,
Cair seduzido
E pré-agônico,
Deliberar do doce aconchego
De teus braços e de teu ventre...

Bem aventurado será o ser
Que supor o trilho irrepreensível
De teu dorso...
...há de encontrar o Éden ecumênico!

Bem aventurado será o escolhido
Que explanar teus mais indiscerníveis desejos
Os quais queimar-lhe-ão a face

“Longe das vozes da ventania...”

Bem aventurado será o ser
Que, no clímax de teu conhecimento,
Coadjuvar para o anúncio da aurora total
E, arguto, inflamar-se no avindo do teu sexo
Cedendo ao prazer e à lascívia da carne do mundo

“No caos, no horror...
Eu vi o caminho que ninguém via...”

“Como és bela, garota!
Teus gestos, teu olhar, teu sorriso
É disso tudo que, para viver, eu preciso...”

Bem aventurado será o ser
Quando finalmente encontrar
Esta garota tão doce e perfeita
Que aqui estou, a idealizar...

Anderson Batistello – 12/08/1999


Comentários:
Eis um dos primeiro poemas de minha autoria, escrito em 1999. Não me lembro muito bem como me inspirei para compor este poema. Lembro-me apenas que foi durante uma aula chata de Física. As idéias foram aparecendo e eu as juntei como se estivesse montando um quebra-cabeça. Quanto ao conteúdo, não foi inspirado em nenhuma garota em especial.

sábado, 23 de abril de 2011

Bem-vindo ao blog "Passeio pelas Letras"



Já faz um bom tempo que penso em abrir um blog, mas sempre adiava a decisão por conta das mais variadas atividades que tenho. Agora, com mais tempo disponível, criei este pequeno espaço na web para divulgar textos de minha autoria sobre os mais diversos temas, dando prioridade a textos literários (poesias, poemas, sonetos, contos, crônicas, dissertações, narrações, músicas) e a outros achados na internet, os quais virão acompanhados de alguns comentários meus.

Aproveitarei também para abordar outros assuntos, por meio de imagens ou textos, que fazem parte do cotidiano ou não, envolvendo reflexões, opiniões, críticas, informações, interpretações, questionamentos, humor, dicas, música, divulgações, entre outros, que sejam interessantes a mim e, talvez, aos visitantes. 

Ocasionalmente, usarei textos e imagens alheios sem deixar, é claro, de citar a fonte e/ou dar os devidos créditos ao autor, desde que isto seja possível.


Inicialmente, tive a ideia de montar um blog apenas voltado a poemas e poesias, tanto os de minha autoria como os de outros autores. Porém, isto iria restringir demais as opções de temas e assuntos que pretendo abordar. Poesias e poemas provavelmente serão mais presentes aqui, uma vez que a maior parte da minha produção se encaixa nestas tipologias.


Enfim, este é um blog eclético. Espero que o conteúdo agrade aos visitantes. Estarei sempre aberto a críticas e sugestões sobre postagens e composições textuais.

Tenha um ótimo passeio pelas letras partindo daqui!

Um abraço!